terça-feira, 6 de setembro de 2011

Damas da Noite

Janaína acorda todo dia às quatro e meia. E já na hora de ir pra cama, Janaína pensa que o dia não passou, que nada aconteceu.

Se a vida não fosse uma imitação da arte, poderíamos dizer que a personagem descrita na letra de uma das canções da banda de rock Biquíni Cavadão é a mesma de nossa reportagem.

Mas não. A Janaína* de que estamos falando não acorda tão cedo e não pensa tanto assim nas coisas que não aconteceram em sua vida. Ao contrário, ela parece bastante contente com seu trabalho e se orgulha de ter criado quatro filhos fazendo o que faz.

Quem é ela? Uma prostituta, ou melhor, garota de programa. Não, talvez a alcunha dada por Celso Blues Boy em uma de suas composições seja mais interessante: “Dama da Noite”; e do dia. Pois Janaína trabalha das 9 da manhã às 9 da noite, de segunda a sábado, num dos bares de Guarapuava (250 km de Curitiba).

Ela conta que após 25 anos de casamento e já com alguns filhos a tiracolo, resolveu se separar e seguir a vida de garota de programa. Faz oito anos que ela ingressou nesse difícil caminho (ao contrário do que muita gente pensa, não é uma vida fácil).

Durante esse tempo, sempre trabalhou no mesmo bar, desses que fingem que são apenas para consumo de bebidas alcoólicas, mas que escondem quartos obscuros para programas com os clientes.

Janaína conta que, desde a separação, nunca mais teve namorado ou pensou em se casar novamente. “A experiência com meu ex-marido foi mais do que suficiente para saber que não quero mais me enroscar com alguém. Quase sempre, os clientes me propõem casamento e tal; mas sei que não é pra valer. E nem quero!”, afirma categórica.

Sem um compromisso amoroso, resta-lhe aproveitar os programas com clientes da casa para satisfazer suas necessidades sexuais. É possível chegar ao orgasmo durante o sexo profissional? “Claro que sim! Se for um cara legal e que se preocupa em dar prazer para a mulher, eu aproveito”, explica bem humorada.

A dama da noite acrescenta que o prazer não está ligado necessariamente somente ao sexo. A companhia de uma bebida e uma boa conversa com o cliente são o pontapé inicial do orgasmo. “Quando vamos lá para os fundos, é que o negócio fica bom”, aponta maliciosa para uma porta do bar.

Antes que o papo comece a ficar mais quente e a cerveja acabe, nos despedimos de Janaína e de seu mundo. Provavelmente, à noite, quando chegar em sua casa, ela não vai ficar preocupada se “o dia não passou e que nada aconteceu”.




*Para preservar a identidade da fonte, foi utilizado um nome fictício

Nenhum comentário:

Postar um comentário